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O mau hálito pode ter uma causa..... genética?!?


O mau hálito é um problema conhecido de muitos. Odor (horrivelmente) desagradável que sai da boca de algum indivíduo durante uma conversa ou um beijo, geralmente associado a uma péssima higiene bucal. De fato, a proliferação de bactérias na cavidade oral (gengiva, língua, etc.) pode elevar a produção de alguns produtos do metabolismo bacteriano que contém átomos de enxofre (a letra S na tabela periódica). Esse elemento é bastante lembrado por estar presente no cheiro característico de ovo podre (quem já sentiu, nunca esquecerá). Daí a origem do odor desagradável.
          
Nada que uma balinha com cheirinho bom ou uma boa higiene bucal não resolvam certo? Não necessariamente. Existem tipos de mau hálito que não são geradas por problemas na higiene bucal, mas sim por possíveis problemas genéticos ainda não descobertos.

Bom, não descobertos até agora. Cientistas de diversos lugares da Europa e dos Estados Unidos demonstraram uma causa genética para um tipo de mau hálito independente da higiene bucal. Através de estudos com famílias que apresentam esse distúrbio, foi observado que seres humanos possuem um gene (chamado de SELENBP1). Esse gene produz uma proteína capaz de metabolizar substâncias que contenham enxofre em formas inativas. Através de diferentes testes, foi observado que pessoas com mau hálito hereditário apresentavam mutações no gene que impediam essa metabolização. Desta forma, os compostos com enxofre sofriam um tipo diferente de transformação, gerando principalmente a substância dimetilsulfureto (DMS). Essa substância é a responsável pelo odor desagradável. Interessantemente, esses dados foram confirmados em camundongos. Animais que apresentavam defeito no gene de SELENBP1 também tinham maior quantidade de DMS no sangue. Os pesquisadores propõe que o DMS observado no sangue dos camundongos e dos humanos com as mutações passe para o interior dos pulmões na forma gasosa, saindo assim durante a expiração.

Os cientistas se mostraram surpresos por encontrar um gene com essa função no corpo humano. Isso porque, em geral, a metabolização de compostos com enxofre é feita por organismos que vivem em ambientes com abundância deste elemento (como, por exemplo, bactérias que colonizam áreas próximas a vulcões). Mais estudos ainda dirão todas as funções e a importância deste gene para o funcionamento do nosso organismo. Mas, desde já, quem tem mau hálito hereditário tem motivos pra comemorar. Isso porque, com a introdução de novas tecnologias, uma possível cura para essas mutações pode estar se aproximando a passos largos.

Esse trabalho, entretanto, não diminui a importância da higiene oral para evitar o mau hálito. Portanto, vai escovar os dentes, gengiva, língua, e diminua a quantidade de enxofre que você exala. Todos agradecem!

Referência:

Pol et. al. Mutations in SELENBP1, encoding a novel human methanethiol oxidase, cause extraoral halitosis. Nature Genetics, 50, 120-129, 2018.

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