O verão acabou no Hemisfério Sul e, felizmente, a epidemia de Zika e Chicungunha não chegou. (Mas ganhamos um belo surto de Febre Amarela...) Mas a Ciência não pode descansar. Uma pergunta essencial para planejar ações de prevenção às doenças é: “até onde ela pode chegar?” O fato da Zika ser transmitida basicamente pelos nossos velhos amigos mosquitos do gênero Aedes ajuda a restringir o alcance da doença. Com isso, as áreas tropicais, que são mais quentes e com mais chuva e logo com mais mosquitos, são as mais atingidas. Mas só essa informação não é suficiente.
Assim, um grupo internacional, que contou com a participação de pesquisadores do Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Suécia, Alemanha e Brasil, se debruçou sobre essa questão e usando matemática, computadores e informações da biologia da Zika e dos mosquitos fez algumas previsões de até onde o vírus pode chegar.
Primeiro, eles fizeram um levantamento dos casos de Zika nos últimos 10 anos e viram que a doença deu a volta no mundo nesse tempo. Restrita à África e Oriente Médio até 2007, a Zika se espalhou pela Ásia e Oceania até 2014, e explodiu em casos na América Latina, especialmente Brasil e Colômbia, em 2015.
Então, os cientistas combinaram os dados da velocidade do aparecimento de novos casos, da população de mosquitos, e da temperatura e umidade das regiões do planeta para estimar o risco de diferentes partes do mundo terem epidemias de Zika. O quadro não é animador. No Brasil, a região da costa entre o Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro, a região central, do Maranhão até o Pantanal, e a região central da Floresta Amazônica apresentam um alto risco. Venezuela, Colômbia e Cuba também. Os americanos que moram na costa do Golfo do México, entre o Texas e a Flórida, podem começar a fazer estoque de repelentes. A região da África entre o Deserto do Saara e a África do Sul tem risco elevado de epidemia. No Oriente, Índia, Sudeste Asiático, regiões populosas na costa da China e o norte da Austrália também estão sob alto risco.
Com esse mapa, mais de dois bilhões de pessoas moram em áreas de risco de contrair a doença. Além disso, mais de cinco milhões de crianças irão nascer em regiões com possíveis epidemias; isso só no Brasil. Isso dá ideia do risco de novos casos de microcefalia e outros problemas de desenvolvimento.
Os pesquisadores indicaram que esse mapa deve ser constantemente atualizado conforme novas informações sobre a doença e sua distribuição se tornarem disponíveis. Mas os resultados atuais já irão ajudar o planejamento de ações de prevenção da Zika pelo mundo.
Referência
MESSINA, J. P. et al. Mapping global environmental suitability for Zika virus. eLife, v. 5, p. e15272, 2016.
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