Antes de começar, essa postagem deveria ter saído na semana passada, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Mas não deu tempo... Porém, antes tarde do que nunca!
Em 1983, os cientistas descobriram como uma bactéria era capaz de transferir seu próprio DNA para o DNA de plantas hospedeiras. Isso foi uma grande revolução na engenharia genética. Alterando o DNA da bactéria, os pesquisadores poderiam fazer mudanças controladas no DNA da planta, facilitando o desenvolvimento de vegetais geneticamente modificados.
Passados 30 anos, inúmeras novas tecnologias de modificação genética permitiram a criação de super-plantas, capazes de produzir mais e serem mais nutritivas, resistirem à seca, frio, inundações, ou serem imunes a ataques de pragas. Alguns exemplos:
Existe um tipo de batata que foi modificada e recebeu um gene do bredo-vermelho, uma planta ornamental. Esse gene produz uma proteína que não causa alergia e é rica em aminoácidos essenciais (ou seja, aqueles que nós não podemos produzir e precisamos obter a partir da alimentação). Assim, essa batata cresce melhor e produz mais batatas, que são mais nutritivas.
Alguns grãos, como a soja, produzem uma substância chamada ácido oxálico. O excesso de ácido oxálico pode causar pedras nos rins. Mas, não comer soja pode não ser uma opção em alguns lugares, onde ela é uma importante fonte de proteínas. A solução é uma soja transgênica, que recebeu a capacidade de quebrar o ácido oxálico de um gene de um fungo comestível. Essa soja tem quatro vezes menos ácido oxálico e mais cálcio, ferro e zinco.
Esse fungo também emprestou outro gene, dessa vez para o tomate. Esse gene fez o tomate produzir mais cera, o que diminui o quanto de água evapora e assim deixa a planta mais resistente a períodos secos.
Mas nem todas as modificações genéticas são de transgênicos, ou seja, colocar gene de um organismo em outro. Algumas modificações podem simplesmente desligar um gene da planta. Por exemplo, ao desligar os genes que produzem enzimas que quebram as paredes das células vegetais, a ciência criou tomates e pimentões com um prazo de validade maior.
A análise de quase 150 trabalhos científicos mostrou que o uso de plantas transgênicas na agricultura reduziu o uso de pesticidas em quase metade e aumentou a produção em mais de 20 %. E o lucro dos fazendeiros aumentou um pouco mais da metade.
Isso quer quiser que as plantas transgênicas vão acabar com a fome no mundo? Longe disso. A fome não é causada pela falta de produção de comida; na verdade produzimos muita mais comida do que conseguiríamos comer. O problema é que mais da metade dela é usada para alimentar vacas, porcos e galinhas, para produzir etanol para carros, ou simplesmente estraga antes de alguém comer e é jogada fora.
Além disso, as plantas transgênicas trazem junto problemas sociais e ecológicos. Muitas plantas transgênicas geram sementes incapazes de germinar. Isso é feito de propósito pelas empresas de biotecnologia, para evitar que as plantas transgênicas se espalhem pelo ambiente, mas também impede que os fazendeiros guardem parte da produção para plantar na safra seguinte. Esse sistema obriga os produtores a comprarem novas sementes todo ano, algo que pode ser insustentável para pequenos produtores e ajuda a aumentar a desigualdade social no campo, concentrando o dinheiro na mão das empresas.
A dispersão dos genes modificados para além da planta original e para fora das fazendas também é um problema. Uma planta resistente a pragas ou a climas extremos pode ter uma vantagem ao competir com plantas naturais do ambiente, causando um desequilíbrio ecológico que pode levar ao desaparecimento de espécies de plantas e animais.
Os problemas existem, mas as novas tecnologias de modificação genética podem ajudar a resolvê-los. Elas vão permitir em um futuro breve que criemos plantas cada vez mais resistentes e mais nutritivas, ou alimentos que produzam remédios e vacinas contra doenças que nos afetam. Não vamos resolver todos os problemas, mas vamos poder melhorar pouco a pouco a vida de todos.
Referências:
KAMTHAN, A. et al. Genetically modified (GM) crops: milestones and new advances in crop improvement. Theoretical and Applied Genetics, v. 129, n. 9, p. 1639–1655, 2016.
Em 1983, os cientistas descobriram como uma bactéria era capaz de transferir seu próprio DNA para o DNA de plantas hospedeiras. Isso foi uma grande revolução na engenharia genética. Alterando o DNA da bactéria, os pesquisadores poderiam fazer mudanças controladas no DNA da planta, facilitando o desenvolvimento de vegetais geneticamente modificados.
Passados 30 anos, inúmeras novas tecnologias de modificação genética permitiram a criação de super-plantas, capazes de produzir mais e serem mais nutritivas, resistirem à seca, frio, inundações, ou serem imunes a ataques de pragas. Alguns exemplos:
Existe um tipo de batata que foi modificada e recebeu um gene do bredo-vermelho, uma planta ornamental. Esse gene produz uma proteína que não causa alergia e é rica em aminoácidos essenciais (ou seja, aqueles que nós não podemos produzir e precisamos obter a partir da alimentação). Assim, essa batata cresce melhor e produz mais batatas, que são mais nutritivas.
Alguns grãos, como a soja, produzem uma substância chamada ácido oxálico. O excesso de ácido oxálico pode causar pedras nos rins. Mas, não comer soja pode não ser uma opção em alguns lugares, onde ela é uma importante fonte de proteínas. A solução é uma soja transgênica, que recebeu a capacidade de quebrar o ácido oxálico de um gene de um fungo comestível. Essa soja tem quatro vezes menos ácido oxálico e mais cálcio, ferro e zinco.
Esse fungo também emprestou outro gene, dessa vez para o tomate. Esse gene fez o tomate produzir mais cera, o que diminui o quanto de água evapora e assim deixa a planta mais resistente a períodos secos.
Mas nem todas as modificações genéticas são de transgênicos, ou seja, colocar gene de um organismo em outro. Algumas modificações podem simplesmente desligar um gene da planta. Por exemplo, ao desligar os genes que produzem enzimas que quebram as paredes das células vegetais, a ciência criou tomates e pimentões com um prazo de validade maior.
A análise de quase 150 trabalhos científicos mostrou que o uso de plantas transgênicas na agricultura reduziu o uso de pesticidas em quase metade e aumentou a produção em mais de 20 %. E o lucro dos fazendeiros aumentou um pouco mais da metade.
Isso quer quiser que as plantas transgênicas vão acabar com a fome no mundo? Longe disso. A fome não é causada pela falta de produção de comida; na verdade produzimos muita mais comida do que conseguiríamos comer. O problema é que mais da metade dela é usada para alimentar vacas, porcos e galinhas, para produzir etanol para carros, ou simplesmente estraga antes de alguém comer e é jogada fora.
Além disso, as plantas transgênicas trazem junto problemas sociais e ecológicos. Muitas plantas transgênicas geram sementes incapazes de germinar. Isso é feito de propósito pelas empresas de biotecnologia, para evitar que as plantas transgênicas se espalhem pelo ambiente, mas também impede que os fazendeiros guardem parte da produção para plantar na safra seguinte. Esse sistema obriga os produtores a comprarem novas sementes todo ano, algo que pode ser insustentável para pequenos produtores e ajuda a aumentar a desigualdade social no campo, concentrando o dinheiro na mão das empresas.
A dispersão dos genes modificados para além da planta original e para fora das fazendas também é um problema. Uma planta resistente a pragas ou a climas extremos pode ter uma vantagem ao competir com plantas naturais do ambiente, causando um desequilíbrio ecológico que pode levar ao desaparecimento de espécies de plantas e animais.
Os problemas existem, mas as novas tecnologias de modificação genética podem ajudar a resolvê-los. Elas vão permitir em um futuro breve que criemos plantas cada vez mais resistentes e mais nutritivas, ou alimentos que produzam remédios e vacinas contra doenças que nos afetam. Não vamos resolver todos os problemas, mas vamos poder melhorar pouco a pouco a vida de todos.
Referências:
KAMTHAN, A. et al. Genetically modified (GM) crops: milestones and new advances in crop improvement. Theoretical and Applied Genetics, v. 129, n. 9, p. 1639–1655, 2016.
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