Pode parecer novidade para a maioria das pessoas, mas faz algum tempo que se mostrou que as bactérias no nosso intestino, a chamada microbiota, contribui para o ganho de peso e a obesidade1. Na verdade, o que parece é que as bactérias que vivem no nosso intestino nos ajudaram ao longo da história a retirar o máximo de energia dos alimentos2. E isso foi bom por muito tempo, quando a oferta de comida não era tão grande e os seres humanos precisavam coletar e caçar para comer.
Atualmente, a oferta de alimento é imensa, mas nosso corpo - e os microrganismos que nele habitam - ainda se comporta como se estivéssemos na idade da pedra. Com isso, muitos de nós engordamos e nossa microbiota tem uma parcela razoável de culpa. Estudos de pouco mais de dez anos atrás mostram que há uma diferença clara nos tipos de bactérias encontradas no intestino de pessoas magras e obesas3. Mais que isso, a transferência do conteúdo intestinal de uma pessoa magra para uma pessoa obesa, melhora o quadro clínico do obeso4, enquanto que, em animais pelo menos, a transferência de conteúdo intestinal de uma pessoa gordo para um animal magro, torna o animal magro, gordo5.
O estudo dessa semana6, publicado na prestigiada revista Nature, sugere como que essas bactérias conseguem fazer isso. Nos ratos alimentados com uma dieta rica em gordura, as bactérias do intestino passam a produzir uma quantidade muito maior de acetato do que o normal. O acetato, um composto pequeno de apenas dois carbonos, entra pelo intestino e vai parar no cérebro, onde aumenta a sensação de fome e dá um estímulo nervoso para o pâncreas produzir insulina. O resultado é que esses animais comem mais e, pela produção alta de insulina, fazem mais gordura a partir da comida que ingerem. Com isso, ao final de quatro semanas, os animais estão sensivelmente mais gordos e com todos os problemas que acompanham o ganho de peso, como diabetes6.
O que esse estudo parece ignorar é o fato de que alguns trabalhos recentes mostram exatamente o contrário: que o acetato é capaz de emagrecer animais obesos e melhorar o diabetes7,8. Como tudo que ainda está engatinhando em ciência, pode ser que algum desses trabalhos esteja errado, mas pode ser que todos estejam certos, bastando apenas saber qual o verdadeiro motivo para a diferença entre os resultados. No entanto, uma coisa é certa: nossa alimentação muda a cara dos nossos hóspedes e isso facilita o ganho de peso.
Referências
1. Bäckhed et al. (2004). The gut microbiota as an environmental factor that regulates fat storage. Proc. Natl Acad. Sci. USA 101, 15718–15723.
2. Turnbaugh et al. (2006). An obesity-associated gut microbiome with increased capacity for energy harvest. Nature 444, 1027–1031.
3. Greiner & Backhed. (2011). Effects of the gut microbiota on obesity and glucose homeostasis. Trends Endocrinol. Metab. 22, 117–123.
4. Vrieze et al. (2012). Transfer of intestinal microbiota from lean donors increases insulin sensitivity in individuals with metabolic syndrome. Gastroenterology 143, 913–916.
5. Ridaura et al. (2013). Gut microbiota from twins discordant for obesity modulate metabolism in mice. Science 341, 1241214.
6. Perry et al. (2016). Acetate mediates a microbiome–brain–β-cell axis to promote metabolic syndrome. Nature 534, 213-217.
7. Frost et al. (2014). The short-chain fatty acid acetate reduces appetite via a central homeostatic mechanism. Nat. Commun. 5, 3611.
8. den Besten et al. (2015). Short-chain fatty acids protect against high-fat diet-induced obesity via a PPARγ-dependent switch from lipogenesis to fat oxidation. Diabetes 64, 2398–2408.
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