Todos nós sabemos, intuitivamente, que a prática regular de exercícios físicos tem efeitos benéficos para o nosso organismo. A prática de exercício parece prevenir uma série de doenças crônicas e degenerativas, como artrite, câncer e diabetes1. Mas você já se perguntou como isso acontece?
Quando pensamos nos nossos músculos em exercício, imaginamos apenas um tecido meio elástico e vermelho, que serve para fazer a movimentação dos ossos e articulações e, consequentemente, a movimentação do nosso corpo. Porém, o músculo não parece ser tão simples assim (como tudo em sistemas biológicos, raramente a coisa é simples). Estudos recentes mostram que o músculo em contração funciona não só mecanicamente, mas também é estimulado, pelo movimento, a produzir e liberar hormônios para a circulação2. Ou seja, mais que um mero motor, nosso músculo parece funcionar como uma fonte de hormônios que podem agir em outros órgãos do nosso corpo. E, pelo que parece, esses hormônios, chamados de miocinas, são os responsáveis pelos efeitos benéficos do exercício físico. Já foi mostrado que essas miocinas estão envolvidas, por exemplo, no aumento do metabolismo basal e emagrecimento, no aumento da densidade óssea e nos efeitos anti-tumorais do exercício.
O trabalho dessa semana3 mostra que o músculo em exercício produz um hormônio chamado catepsina B (CTSB). Esse hormônio entra na circulação e chega ao cérebro, onde estimula a produção de neurotrofinas e a neurogênese. Neurotrofinas são hormônios que estimulam o crescimento e desenvolvimento dos neurônios, as células que formam o cérebro e todo nosso sistema nervoso. A neurogênese, por sua vez, é o processo pelo qual novos neurônios são formados. Esse processo de neurogênese é muito importante durante a gestação, nas fases de desenvolvimento do cérebro do bebê, mas também pode acontecer no cérebro de adultos, em muito menor frequência e aparentemente em apenas algumas áreas especiais. Então, qual a grande vantagem do exercício aumentar hormônios e células de regiões específicas do cérebro? Segundo esse trabalho, as neurotrofinas estimulam o crescimento e desenvolvimento de células do giro dentado do hipocampo, uma região associada à memória. Ou seja, esse trabalho descreve um mecanismo pelo qual o exercício físico, através da ação de uma miocina, contribui para a melhora da memória. Embora boa parte do trabalho tenha sido feito com células em cultura e camundongos de laboratório, esse processo parece operar também em macacos e seres humanos. Isso porque os principais achados do trabalho: (a) que o exercício aumenta a produção de CTSB; e (b) que essa produção está relacionada com melhora do desempenho em testes de memória, foram confirmados tanto em macacos Rhesus, quanto em voluntários humanos, sugerindo que esse mecanismo também nos beneficia.
Então, vamos malhar não só para o verão, mas também para não ficar esquecendo chave, celular e compromissos...
Referências:
1Pedersen & Saltin. (2015). Exercise as medicine - evidence for prescribing exercise as therapy in 26 different chronic diseases. Scand J Med Sci Sports. 25: 1.
2Pedersen & Febbraio. (2012). Muscles, exercise and obesity: skeletal muscle as a secretory organ. Nat. Rev. Endocrinol. 8: 457.
3Moon et al. (2016). Running-induced systemic cathepsin B secretion is associated with memory function. Cell Metabol. 24: 1.
créditos da imagem: https://www.sciencebasedmedicine.org/exercise-and-memory/
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