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Mostrando postagens de 2016

Porque vão separar bebês macacos das suas mães (ou porque você não deve acreditar cegamente em abaixo-assinados apelativos)

Há algum tempo atrás, eu recebi por e-mail um convite para assinar um abaixo-assinado contra “torturas antiéticas e matanças de macacos bebês”. A campanha era assinada pela médica americana Dra. Ruth A. Decker (até onde conseguir apurar, pesquisadora aposentada da Universidade de Michigan, Estados Unidos) contra a pesquisa proposta pelo Dr. Ned H. Kalin, do Departamento de Psiquiatria, da Universidade de Wisconsin, também nos Estados Unidos. Segundo Dra. Decker, macacos recém-nascidos seriam separados das suas mães e colocados, presos, separados e sozinhos. Além disso, eles seriam estressados de diversas formas, como expostos a cobras vivas para tomarem sustos, furados com agulhas e submetidos à escaneamento cerebral. Obviamente, o abaixo-assinado viralizou e mais de meio milhão de pessoas assinaram o pedido. Pensei: “cara, em pleno século XXI, nenhuma Universidade, ainda mais americana, iria aprovar uma pesquisa cruel a esse ponto.” Pesquisei um pouco mais a fundo e vi que estava c

Profissão Cientista #6: 45ª Reunião da SBBq - Natal, Brasil

Em Junho desse ano, eu participei da 45ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular em Natal! Confira o que rolou lá no vídeo!

Terceiro ano d’A Porta de Marfim: 38 % mais acessos!

Três anos de blogue ontem! Tivemos mais de 22 mil visualizações individuais, um aumento de 38 % em relação a 2015. A média de visualizações para cada postagem foi de 197, 18 % maior que no ano passado. No total dos três anos, o blogue foi visto quase 41 mil. A postagem com mais acessos continuou sendo "Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?", com quase 7 mil visualizações (bicampeã!). Mas não houve um aumento de acesso a ela; essa postagem representou 30 % do acesso ao blogue, mesmo valor do ano passado. A pesquisa orgânica (via google e etc.) continua sendo a principal porta de entrada do blogue, correspondendo a 59 % dos acessos. O público brasileiro continua sendo o mais ativo, como esperado, contando com 84 % dos acessos. Eu queria tentar expandir o blogue para outras áreas da Ciência, saindo um pouco das áreas biológica e de saúde. Não consegui, mas adicionamos três novos autores que contribuíram para o blogue esse ano. A resolução de ano novo es

Uma relação entre comida gordurosa e câncer

Se você, assim como eu, está acima do peso, precisa se preocupar com a sua saúde. (Como eu sei se estou acima do peso? É simples: você vai precisar de uma balança e uma fita métrica. Se pese e meça a sua altura. Multiplique a sua altura em metros por ela mesmo. Agora divida o seu peso em quilos pelo valor da altura x altura. Pronto, esse é o seu índice de massa corporal ou IMC. Se ele está acima de 25 kg/m 2 , você está sobrepesado (gordinho, digamos). Se ele está acima de 30 kg/m 2 , você está obeso!) Pessoas sobrepesadas e obesas têm um risco maior de ter várias doenças, como diabetes, pressão alta, doenças do coração e até câncer. Vários estudos já mostraram relação entre a obesidade e câncer de intestino, tanto em ratos quanto pessoas. Porém, como a obesidade causava o câncer ainda era desconhecido. Para explorar essa relação, pesquisadores americanos estudaram o intestino de camundongos obesos. Os resultados foram publicados esse ano na revista Nature . Para engordar o

C8H10N4O2 #4 - Professor Heitor A. de Paula Neto

Uma entrevista com Dr. Heitor A. de Paula Neto, professor da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Conversamos sobre o curso de Veterinária, sobre suas pesquisas em torno do metabolismo e do sistema de defesa do corpo e sobre os futuros pesquisadores.

O Arauto da Torre #7: Por que precisamos de dinheiro público na Ciência?

Será que dá para fazer Ciência boa e honesta só com financiamento privado? Assista e confira!

Glifosato causa câncer?

Vocês devem ter esbarado pela Internet com postagens dizendo que o herbicida glifosato causa um monte de problemas de saúde, principalmente câncer. Devem ter visto também alguns abaixo-assinados virtuais pedindo a proibição da venda do veneno. Mas como funciona o glifosato e quais são as evidências científicas que correlacionam o herbicida com câncer? O glifosato foi desenvolvido em 1970 e lançado no mercado quatro anos depois. A última patente do composto expirou no ano 2000 e agora ele é vendido por diversas empresas pelo mundo. O herbicida impede a produção de alguns aminoácidos (moléculas usadas na montagem das proteínas) na planta, que morre. O glifosato mata apenas plantas porque apenas elas têm a capacidade de produzir esses aminoácidos específicos, enquanto outros organismos não. Assim, o glifosato é letal apenas contra vegetais. Com o desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes ao veneno, o uso do glifosato aumentou rapidamente e hoje o produto vende algo em torno d

Nem tudo que é natural faz bem

Pode parecer óbvio, mas muita gente usa a falácia de apelo à natureza para justificar o uso de ervas medicinais ou outros produtos naturais, dizendo que já que é natural é bom. Gosto de contra argumentar dizendo que comigo-ninguém-pode e veneno de escorpião também são naturais, mas matam. Nos últimos anos, houve um grande aumento do consumo de suplementos alimentares e fitoterápicos, e a indústria do setor bate recorde de lucros ano após ano. Estima-se que 6 % da população da cidade de São Paulo usa algum tipo de suplemento alimentar, mas esse número pode chegar a 50 % nos Estados Unidos. Muitas pessoas usam esses produtos sem orientação profissional com base no “é natural então é bom” ou “funcionou com meu colega de academia”, e nada pode ser mais perigoso que isso. Os levantamentos de dados mostram que de 2 % a 16 % dos casos de problemas no fígado causados por consumo de remédios ou outros compostos são devido ao uso de suplementos alimentares. Parte dos problemas pode ser a

Socializar diminui o estresse?

Frequentemente, quando se trata de saúde, o papel de interações sociais é pouco estudado. No senso comum, vemos alguma conexão. Quando estamos muito estressados na vida profissional, pessoal ou afetiva, nada melhor que socializar com os amigos, certo? Sentimo-nos melhores, mais dispostos, menos estressados. Mas o que a ciência diz sobre isso? Em setembro deste ano, uma colaboração de cientistas dos Estados Unidos, Alemanha, Uganda e Suiça demonstraram em macacos, que relações sociais afetivas atenuam tanto o estresse agudo (seu chefe pediu um relatório pra ontem, bem estressante!) quanto o estresse rotineiro. Macacos possuem relações sociais características, demonstradas por compartilhamento de comida, defesa quando um membro do seu grupo está em perigo e outros sinais de cooperação que se assemelham a relações sociais humanas, permitindo a criação de certo paralelo. Já é sabido que nosso organismo é capaz de perceber estímulos, como situações de estresse (físico, social

Tratamento criado há 220 anos funciona?

O título dessa postagem é uma surpresa? Se eu te oferecesse um tratamento de saúde inventado por volta do ano 1800, quando ainda eram usadas sangrias e outros métodos estranhos, o que você acharia? Então, a homeopatia foi criada em 1796, pelo alemão Samuel Hahnemann. A teoria homeopática de Hahnemann se baseia em três princípios que não tem qualquer sustentação científica hoje: 1) doenças são causadas por miasmas; 2) semelhante cura semelhante; e 3) diluição aumenta a potência. O que a ciência moderna diz sobre esses conceitos? Os miasmas de Hahnemann seriam princípios infecciosos. Cada doença teria um miasma. Quando uma pessoa fosse exposta a esse miasma, ela apresentaria sintomas locais como problemas de pele. Segundo Hahnemann, os tratamentos da época faziam os miasmas se esconderem no corpo e atacarem órgãos internos, causando todas as doenças. Obviamente, os miasmas não existem. As doenças são causas por diferentes problemas, como defeitos genéticos, infecções por micro-orga

Profissão Cientista #5: Contra a PEC19/2016

O governo do Estado do Rio de Janeiro queria reduzir o orçamento da ciência pela metade, mas a gente não deixou barato. Assista e confira!

Transgênicos alimentando o mundo

Antes de começar, essa postagem deveria ter saído na semana passada, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Mas não deu tempo... Porém, antes tarde do que nunca! Em 1983, os cientistas descobriram como uma bactéria era capaz de transferir seu próprio DNA para o DNA de plantas hospedeiras. Isso foi uma grande revolução na engenharia genética. Alterando o DNA da bactéria, os pesquisadores poderiam fazer mudanças controladas no DNA da planta, facilitando o desenvolvimento de vegetais geneticamente modificados. Passados 30 anos, inúmeras novas tecnologias de modificação genética permitiram a criação de super-plantas, capazes de produzir mais e serem mais nutritivas, resistirem à seca, frio, inundações, ou serem imunes a ataques de pragas. Alguns exemplos: Existe um tipo de batata que foi modificada e recebeu um gene do bredo-vermelho, uma planta ornamental. Esse gene produz uma proteína que não causa alergia e é rica em aminoácidos essenciais (ou seja, aqueles que nós

Boas notícias contra o Alzheimer!

Alzheimer é uma doença muito debilitante. Normalmente observada em idosos, é marcante pelo frequente e progressivo esquecimento. Perda de memória que progride, começando por esquecer onde colocou as chaves, onde esqueceu o celular (se isso ocorre com frequência, não quer dizer NECESSARIAMENTE que você está com Alzheimer, CALMA!!), passa pelo esquecimento de acontecimentos mais distantes da memória, esquecimento de como cozinhar, dirigir, escrever e até como falar. Pois é, imagine como deve ser difícil. Essa perda progressiva da cognição, conjunto de atividades neurológicas envolvidas com a aprendizagem, ocorre principalmente devido a deposição de placas A β (beta)-amilóides no cérebro, gerando morte de neurônios e levando aos sintomas da doença. Felizmente, há cientistas nesse mundo, e alguns deles estão buscando estratégias terapêuticas para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Está semana, um grupo de cientistas que conta com Americanos e suíços demonstraram avanços na d

Tratando câncer com... bactérias?!?

Bactérias. Normalmente, quando ouvimos essa palavra, somos instintivamente levados a pensar em coisas negativas: infecção, doença, dor. Apesar de algumas bactérias de fato causarem tudo isso, é clara a contribuição delas para que consigamos viver melhor. Um exemplo claro disso é a nossa flora intestinal. As diversas populações de bactérias que vivem no nosso intestino não nos fazem mal, pelo contrário: auxiliam o trânsito intestinal, nos ajudam a quebrar moléculas que sozinhos não conseguiríamos, impedem o crescimento de outras bactérias que poderiam nos deixar doentes.                 Sabendo que bactérias podem ser benéficas também, pesquisadores americanos pensaram: por que não modificarmos bactérias para tratarmos.... o câncer?!? Eles utilizaram uma variante atenuada, ou seja, um grupo de bactérias sem capacidade infecciosa, do gênero Salmonella , e a modificaram com engenharia genética para que elas invadissem células de câncer e, após se multiplicarem, rompessem essa cél

Peguem seus jalecos! #6 - A revanche das bolinhas

As bolinhas de lavar roupa voltaram para uma revanche! Será que elas se saíram melhor dessa vez? Assista e confira!

Apaguem as luzes, pois nosso corpo é mesmo um relógio

Sabe aquele hábito moderno de deitar à noite na cama e ligar o celular para ver o Facebook? Ou ligar a TV e ficar assistindo até dormir? Então... isso pode estar acabando com a sua saúde. O artigo dessa semana testou o efeito de manter animais de laboratório expostos o tempo todo a luz artificial 1 . A ideia foi tentar simular o que muitas pessoas passam durante muito tempo de suas vidas. Profissionais que trabalham à noite, como seguranças e profissionais de saúde plantonistas em hospitais ficam expostos constantemente a luz durante o período de escuro. E isso parece que faz um mal enorme. Os animais expostos a luz constante tiveram uma desregulação clara do seu ciclo circadiano ou, em outras palavras, do seu relógio biológico. Isso foi acompanhado de um maior ganho de peso, perda de força muscular, perda de massa óssea (um início de osteoporose), anemia e um aumento de marcadores inflamatórios no sangue. De fato, esse trabalho vem confirmar muitos outros estudos anteriores.

Melhorando a imunidade pela fé: os mecanismos celulares e moleculares do efeito placebo

Imaginem a seguinte cena: você está com uma forte dor de cabeça e alguém, de sua inteira confiança, lhe oferece um remédio dizendo que vai aliviar sua dor. Você toma o comprimido e, em questão de alguns minutos, a dor se foi. Bem... a dor se foi, mas a pergunta fica: quem disse que aquele comprimido realmente tinha um medicamento dentro? A dor passou porque o medicamento funciona ou porque você, confiando na pessoa que te deu o comprimido, criou expectativas psicológicas de que ia melhorar? Essa é a essência do “efeito placebo”. Todo estudo de novos medicamentos precisa ter um grupo para controlar o efeito placebo, ou seja, pacientes ou voluntários que receberão um comprimido que não contém o medicamento testado - mas que tem aspecto igualzinho a ele - de forma a controlar os efeitos psicológicos (não específicos) da administração do medicamento. Pois bem, na inclusão desse grupo placebo, muitas coisas que julgávamos eficazes no tratamento de condições clínicas se mostraram, na

A nossa corrida armamentista contra os microrganismos

“Agora, aqui, é preciso toda velocidade que você possa correr para ficar no mesmo lugar” (Alice através do espelho) Aproveitando que o filme de Tim Burton ainda deve estar em cartaz, selecionei para essa semana um artigo que fala de um conceito bastante discutido em biologia, mas pouco conhecido do público em geral (pelo menos das pessoas com quem já conversei sobre isso). A passagem que abre esse post, retirada do livro de Lewis Carroll, é a base da “Hipótese da Rainha Vermelha” (Red Queen Hypothesis), inicialmente usada em ecologia, mas com aplicações em diversas outras áreas 1 . Em uma de suas aplicações, essa ideia é usada para descrever as relações entre presas e predadores. Segundo essa linha, predadores desenvolvem estratégias para seu sucesso na captura da presa, enquanto a presa, por sua vez, desenvolve meios de fugir da investida do predador. Essa adaptação da presa, então, exige que o predador desenvolva novos meios, mais sofisticados, de caça, o que força, mais um