A principal forma de tratamento do câncer hoje é o uso de quimioterapia. O remédio é dado para paciente por via oral ou diretamente na veia. O problema é que a quimioterapia também atinge as células saudáveis, causando grandes efeitos colaterais. Para piorar, vários tipos de tumores são pouco irrigados, ou seja, poucos vasos sanguíneos chegam até ele, e assim a quantidade de droga que atinge o tumor é pequena. Assim, é preciso usar uma dosagem maior de quimioterápico e os efeitos colaterais são maiores. E alguns remédios, muito potentes para o tratamento do câncer, não podem ser usados devidos aos também potentes efeitos colaterais. Dessa forma, vários grupos de pesquisa pelo mundo vêm procurando novas formas de administração dos quimioterápicos, visando aumentar a quantidade de droga que chega ao tumor e reduzir a quantidade de remédio que fica espalhada pelo corpo.
Esse ano, cientistas dos Estados Unidos publicaram um protótipo de aparelho capaz de direcionar o quimioterápico diretamente ao tumor usando um campo elétrico. O dispositivo tem um reservatório para a droga e um eletrodo ligado a uma fonte elétrica. Quando ligado, o aparelho gera um campo elétrico que é direcionado por um segundo eletrodo colocado no corpo e o quimioterápico é forçado a “andar” na direção dele pelo campo elétrico. Se o tumor estiver no caminho do campo elétrico (e essa é a intenção), a droga vai passar diretamente por dentro dele sem se espalhar pelo corpo, como aconteceria normalmente.
Usando camundongos e cachorros como modelos, os pesquisadores mostraram que o dispositivo funciona e foi possível detectar a droga no tumor, mas não no sangue. Além disso, a quantidade de quimioterápico no tumor é muito maior usando o aparelho, em comparação com a injeção da droga direto na veia.
Em modelo de câncer de pâncreas (que é um dos tumores cujos pacientes têm menor expectativa de vida), o novo aparelho causou uma redução no tamanho do tumor, enquanto o tratamento tradicional apenas diminuiu seu crescimento. Já no modelo de câncer de mama, o dispositivo diminuiu o crescimento do tumor e aumentou o tempo de sobrevivência dos camundongos. Os cientistas também viram que um tratamento combinando o novo aparelho com a quimioterapia tradicional é ainda melhor que os dois separados.
O estudo mostra um protótipo, que ainda precisa ser aperfeiçoado para ser usado na clínica. Ele ainda precisa ser colocado cirurgicamente em uma área bem próxima ao tumor, o que não é um problema muito grande, visto que normalmente vários tipos de tumores são retirados em uma cirurgia antes do tratamento. Então, os médicos poderiam usar o mesmo procedimento para retirar o tumor e colocar o dispositivo. Além disso, ele ainda precisa de uma fonte de energia externa, e vai precisar ser adaptado para funcionar com algum tipo de bateria. Mas de qualquer forma, essa nova tecnologia vai reduzir os efeitos colaterais do tratamento e permitir o uso de novas drogas mais potentes contra o câncer.
Referência
BYRNE, J. D. et al. Local iontophoretic administration of cytotoxic therapies to solid tumors. Science Translational Medicine, v. 7, n. 273, p. 273ra14, 2015.
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