Nosso corpo é povoado por bactérias; não só no intestino, onde compõem a microbiota intestinal, mas também sobre toda a pele. Na pele, bactérias que atendem pelo nome científico de Staphylococcus aureus estão normalmente presentes em grande número. Mas podem não ser inofensivas; elas podem causar desde infecções simples, como espinhas, até infecções graves e generalizadas, podendo levar a morte em pessoas mais debilitadas ou com problemas no sistema de defesa do corpo. A S. aureus é um problema de saúde pública, porque comumente causa infecções em pessoas hospitalizadas (elas entram no corpo pelos furos na pele feito pelos cateteres usados para medicações aplicadas na veia, por exemplo) e já existem vários tipos dessas bactérias resistentes a muitos antibióticos (as chamadas superbactérias).
E foi estudando o processo de infecção da S. aureus que pesquisadores americanos descobriram uma nova função para o tecido adiposo subcutâneo, ou seja, as células de gordura que ficam logo abaixo da pele. Os cientistas perceberam que a infecção da pele pelas bactérias estimulava o processo de adipogênese, que é a multiplicação das células que acumulam gordura, em camundongos. E então eles resolveram estudar isso mais a fundo.
Os pesquisadores usaram primeiro dois modelos para estudar a relação entre infecção e tecido adiposo: um camundongo transgênico no qual a adipogênese é muito mais lenta (então ele engorda pouco) e um tratamento com drogas que impedem a multiplicação de células de gordura em camundongos normais. Em ambos os testes, os animais ficaram mais suscetíveis a ser invadido pelas bactérias e desenvolviam infecções mais graves, indicando que o aumento da quantidade de células de gordura (chamada de adipócitos) é importante para combater as bactérias invasoras.
Em seguida, os cientistas foram estudar os adipócitos mais de perto e verificaram que as células humanas ou de camundongos, tanto em cultura quanto in vivo (ou seja, no próprio bicho (ou pessoa)) produzem uma proteína capaz de matar bactérias, que no geral são chamadas de peptídeos antimicrobianos. Mais ainda, os pesquisadores viram que a produção dessa proteína aumentava nas células de gordura quando o camundongo era infectado com a bactéria. Em experimentos in vitro (ou seja, em tubos de ensaio no laboratório), os cientistas provaram que a proteína produzida pelas células de gordura era capaz de impedir o crescimento da bactéria. Dessa forma, os pesquisadores mostraram que o tecido adiposo sob a pele tem papel importante no combate a infecções que começam nessa região.
Os cientistas também viram que tanto camundongos quanto pessoas obesas têm mais dessa proteína no sangue. Isso quer dizer que os obesos estão mais protegidos contra infecções? Na verdade, não. Segundo os pesquisadores o aumento na quantidade da proteína não é suficiente para combater as bactérias; para isso, é preciso uma quantidade muito maior e localizada no ponto da infecção. E pior, essa proteína parece aumentar a resposta inflamatória geral do corpo e esse processo está envolvido com várias doenças relacionadas com a obesidade, como o diabetes e o entupimento dos vasos sanguíneos.
Logo, não vai dar para usar as bactérias da pele como desculpa para manter os quilos que eu vou ganhar nesse fim de ano.
Referências
ZHANG, L. et al. Dermal adipocytes protect against invasive Staphylococcus aureus skin infection. Science, v. 347, n. 6217, p. 67–71, 2015.
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