Pular para o conteúdo principal

Excesso de uma proteína pode está relacionado à esquizofrenia


A esquizofrenia é um transtorno mental que atinge cerca de 1 % da população mundial. A doença tem sintomas graves como alucinações e delírios, problemas de comunicação durante as crises, catatonia e depressão. O tratamento é feito à base de remédios antipsicóticos, mas nos casos mais graves, internações involuntárias podem ser necessárias. Porém, as causas da esquizofrenia ainda são muito pouco conhecidas. Teorias que envolvem psicanálise, bioquímica, neurobiologia e genética se misturam, e é provável que todas estejam certas em determinado grau.

Pela parte genética, diversos genes já foram relacionados com a esquizofrenia, entre eles o chamado NOS1AP. Problemas nesse gene foram identificados em pessoas com esquizofrenia familiar no Canadá e na China. Mas como o NOS1AP está envolvido na doença ainda era um mistério e foi o alvo da pesquisa de um grupo de pesquisadores americanos e franceses, publicada no ano passado.

Os cientistas usaram técnicas de biologia molecular para alterar a atividade do gene NOS1AP em camundongos, fazendo com que os neurônios tivessem mais ou menos da proteína produzida por esse gene. Os resultados mostraram que esse gene regula a movimentação dos neurônios durante o desenvolvimento do cérebro do embrião. Quando a atividade do gene foi aumentada, a migração dos neurônios foi reduzida, dificultando a formação de pontos de comunicação entre eles. Por outro lado, quando a atividade do gene foi diminuída, a migração das células aumentou.

Os dados obtidos com camundongos parecem ter um bom paralelo com o visto em pacientes humanos. Os cérebros de pessoas com esquizofrenia apresentam problemas nos pontos de comunicação entre os neurônios, o que pode ser causado por um excesso de NOS1AP, embora isso ainda seja uma especulação. Entender as causas moleculares da esquizofrenia é o primeiro passo para se buscar um tratamento específico para a doença.

Referência

CARREL, D. et al. Nitric Oxide Synthase 1 Adaptor Protein, a Protein Implicated in Schizophrenia, Controls Radial Migration of Cortical Neurons. Biological Psychiatry, v. 77, n. 11, p. 969–978, 2014.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, suco de melão São Caetano não é a cura do câncer

Recebi pelo Facebook um link para uma postagem do blogue Cura pela Natureza . Lá é descrito o poder de uma planta medicinal capaz de curar o câncer, controlar o diabetes e, de quebra, fortalecer a imunidade do corpo. Sinistro, né? A planta em questão é chamada de melão São Caetano ou melão amargo. Conhecida cientificamente como Momordica charantia , essa planta faz parte da família Cucurbitaceae, junto com outras plantas famosas, como a abóbora, o pepino e a melancia. Ela cresce bem nas áreas tropicais e subtropicais da África, Ásia e Austrália, e foi trazida ao Brasil pelos escravos. O texto cita o Dr. Frank Shallenberger, dos Estados Unidos, que seria o descobridor dos efeitos medicinais da planta. Fui então atrás das pesquisas publicadas pelo Dr. Shallenberger para saber mais sobre os poderes do melão São Caetano. E descobri que ele nunca publicou nenhum trabalho científico sobre a planta (na verdade, ele nunca publicou qualquer coisa!). Como que a

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?

Ontem, eu recebi pelo Facebook um vídeo de uma entrevista com o Dr. José Roberto Kater onde ele comenta sobre os benefícios do ovo na alimentação. Porém, algumas coisas me soaram um pouco, digamos, curiosas (na verdade, em pouco mais de três minutos de vídeo poucas coisas pareceram normais (o vídeo completo está disponível no fim do texto)). O Dr. Kater é, segundo a Internet, médico, obstetra, nutrólogo, antroposófico (a medicina antroposófica é um ramo alternativo com base em noções ocultas e espirituais), homeopata, acupunturista e com mais algumas outras especialidades. Porém, não é cientista, já que não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes (do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, CNPq) ou assina qualquer artigo científico indexado em banco de dados internacional. Para mim, o cara pode dizer que é o Papa, eu não vou acreditar nele de primeira. As informações científicas estão disponíveis e eu fui pesquisar para entender se o Dr. Kater é um visionário ou ch