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Mostrando postagens de 2015

Dispositivo utiliza campo elétrico para levar drogas diretamente para tumores

A principal forma de tratamento do câncer hoje é o uso de quimioterapia. O remédio é dado para paciente por via oral ou diretamente na veia. O problema é que a quimioterapia também atinge as células saudáveis, causando grandes efeitos colaterais. Para piorar, vários tipos de tumores são pouco irrigados, ou seja, poucos vasos sanguíneos chegam até ele, e assim a quantidade de droga que atinge o tumor é pequena. Assim, é preciso usar uma dosagem maior de quimioterápico e os efeitos colaterais são maiores. E alguns remédios, muito potentes para o tratamento do câncer, não podem ser usados devidos aos também potentes efeitos colaterais. Dessa forma, vários grupos de pesquisa pelo mundo vêm procurando novas formas de administração dos quimioterápicos, visando aumentar a quantidade de droga que chega ao tumor e reduzir a quantidade de remédio que fica espalhada pelo corpo. Esse ano, cientistas dos Estados Unidos publicaram um protótipo de aparelho capaz de

Células da gordura sob a pele combatem infecções

Nosso corpo é povoado por bactérias; não só no intestino, onde compõem a microbiota intestinal, mas também sobre toda a pele. Na pele, bactérias que atendem pelo nome científico de Staphylococcus aureus estão normalmente presentes em grande número. Mas podem não ser inofensivas; elas podem causar desde infecções simples, como espinhas, até infecções graves e generalizadas, podendo levar a morte em pessoas mais debilitadas ou com problemas no sistema de defesa do corpo. A S. aureus é um problema de saúde pública, porque comumente causa infecções em pessoas hospitalizadas (elas entram no corpo pelos furos na pele feito pelos cateteres usados para medicações aplicadas na veia, por exemplo) e já existem vários tipos dessas bactérias resistentes a muitos antibióticos (as chamadas superbactérias). E foi estudando o processo de infecção da S. aureus que pesquisadores americanos descobriram uma nova função para o tecido adiposo subcutâneo, ou seja, as célu

Dois anos e contando!

  "A Porta de Marfim" faz dois anos hoje! Em 2015, tivemos mais de 10 mil visualizações individuais, mais que o dobro do ano passado. No total, as postagens foram lidas mais de 14 mil vezes. Com 80 postagens, temos uma média de 176 visualizações por postagem. Um aumento significativo em relação à média de 56 visualizações por postagem do ano passado (p = 0,0003 pelo teste de Mann Whitney (Sim, aqui a gente mata a cobra e mostra o pau!)). A postagem com mais acessos foi disparada " Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos? ", com quase 5 mil visualizações (ela sozinha teve mais visitas que todo o blog no seu primeiro ano). Diferente do ano passado, quando o Facebook foi a principal porta de acesso ao Blog, em 2015 o público chegou mais À Porta de Marfim pelo Google (aproximadamente 4,5 mil acessos). Essa mudança é interessante pode indicar que os assuntos aqui discutidos são relevantes e buscados pelo público, e que estamos atingindo pessoas além daq

Anticorpos desenvolvidos em laboratório como novo tratamento para a AIDS

As vacinas treinam o nosso sistema imune (nosso sistema de defesa do corpo) para lutar contra uma futura infecção. Elas contêm alguma parte do organismo que causa a doença; pode ser uma proteína apenas, ou o organismo inteiro morto, ou ainda o organismo atenuado (ou seja, vivo, mas incapaz de causar uma infecção). O que nosso sistema imune faz é pegar esse componente da vacina e gerar um anticorpo. Um anticorpo é uma proteína produzida pelo sistema imune, capaz de se ligar de modo específico e mesmo em baixa quantidade em alguma molécula externa do organismo invasor. A ligação do anticorpo funciona como uma marcação, indicando para as células e mecanismo de defesa do corpo quem são os inimigos que devem ser destruídos. O mesmo processo funciona quando ficamos doentes; o sistema imune produz anticorpos contra o organismo invasor como forma de ajudar a combater a doença. Mas se é simples assim, por que nosso corpo não consegue combater o vírus da AIDS ou por que ainda

Poderemos testar remédios em um novo monstro do Dr. Frankenstein?

“Frankenstein ou o Moderno Prometeu” é um romance de terror gótico escrito por Mary Shelley e lançado em 1818. O livro conta a história do estudante de história natural Victor Frankenstein, que dá vida a uma criatura “humana” feita com partes de diversos cadáveres. Embora chamado de monstro, a criação de Frankenstein é bondosa e articulada. Quase 200 anos depois, novos e verdadeiros doutores Franskensteins podem estar criando “monstros” para nos ajudar a testar novos remédios. Desenvolver novos remédios é caro, principalmente pela alta taxa de falha no processo, ou seja, vários candidatos acabam não funcionando no fim e o dinheiro gasto vai pelo ralo. Parte do problema está na nossa falta de capacidade de fazer bons testes com esses candidatos em um momento inicial, para descobrir cedo se o novo composto é bom ou não, antes de perder tempo e dinheiro. Um remédio é testado primeiro em cultura de células, depois em animais, depois diversas vezes em dife

Gorduras, gorduras, gorduras!

Aproveitando o bonde do óleo canola da última postagem, hoje fui atrás de informações sobre os efeitos das gorduras saturadas sobre a saúde do coração. Mas antes de começar, o que são gorduras saturadas? Quando as pessoas e a mídia em geral falam “gorduras”, eles normalmente querem se referir aos ácidos graxos, que são moléculas compostas por uma cadeia de átomos de carbonos ligados em sequência. Os ácidos graxos podem ser classificados como saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados. Os saturados (que então são chamados genericamente de gordura saturada) têm apenas ligações simples entre os átomos de carbono e são encontrados principalmente em fontes animais, como leite, banha de porco e naquela capinha da picanha (mas o óleo de cocô e de dendê também são ricos em gorduras saturadas). Os insaturados possuem ligações duplas entre os átomos de carbono; os monoinsaturados têm uma dupla ligação entre alguma dupla de carbono da cadeia e os poli-insaturados possuem mais de uma dup

Sala de cinema da torre: O Jogo da Imitação

Esse é o melhor filme sobre a vida de um cientista que eu vi nos últimos anos e que junta duas coisas que muito me interessam: ciência e a Segunda Guerra Mundial! “O Jogo da Imitação” foi estrelado por Benedict Cumberbatch, no papel de Alan Turing, Keira Knightley, que dá vida à Joan Clarke, e Matthew Goode, que interpreta Conel Hugh O'Donel Alexander. Os três personagens foram criptoanalistas (pessoas especializadas em decifrar códigos) a serviço da Inglaterra e que tiveram papel fundamental na Segunda Guerra Mundial. O filme foi escrito por Graham Moore, com base no livro “Alan Turing: The Enigma”, de Andrew Hodges, e ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado esse ano. E Morten Tyldum foi o diretor. O filme é uma espécie de biografia do matemático Alan Turing, mas que tem como foco principal o seu trabalho em Bletchley Park, onde ele se dedicou a decifrar as comunicações nazistas criptografadas com a máquina Enigma. Essa máquina funcionava como

Não, o óleo canola não é um veneno

Antes de começar, gostaria de dizer que essa postagem é uma resposta a um e-mail que recebi de um leitor, pedindo mais informações sobre o óleo canola. Se você pensa em algum tema que seria interessante de ser discutido aqui no blogue, mande um e-mail para aportademarfim@gmail.com ou deixe um comentário aqui mesmo. Prometo que vou dar prioridade em escrever sobre o que for sugerido. Então, começando... Se você procurar um pouco na Internet, vai encontrar várias postagens em blogues sobre o óleo canola. A maioria delas vai falar que ele é tóxico, que deveria ser proibido e que as pessoas que vendem deveriam ser presas (sim, isso está escrito). Mas, a grande maioria dessas postagens não tem nenhuma referência científica séria como embasamento. Também temos muitas cópias sem nenhum tipo de referência ou agradecimento ao autor original (isso é plágio; você que faz isso é que deveria ser preso). Encontrei apenas uma postagem moderada, que avaliava possíveis benefícios e problemas no

A fosfoetanolamina é melhor que o leite de janaúba?

A fosfoetanolamina ainda está bombando na Internet e na mídia, que discutem, com pouco conehcimento técnico, se o composto funciona ou não contra o câncer. A pressão popular em diferentes esferas foi tão grande que o Governo Federal anunciou recentemente que vai disponibilizar R$ 10 milhões através do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para o estudo da fosfoetanolamina durante três anos. Dez milhões de reais é um bocado de dinheiro! Para vocês terem noção, faço a seguinte comparação: o maior edital de financiamento para pesquisas científicas da história do Brasil foi a criação dos chamados Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (ou INCTs). Grupos de pesquisa de todo o país se juntaram para escrever grandes projetos científicos, com centenas de páginas e em inglês, já que os projetos foram avaliados por julgadores de fora do Brasil, para garantir a idoneidade do processo. Dezenas de INCTs foram criados, cada um deles com centenas de pesquisadores nacionais e es

Sala de cinema da Torre: A Teoria de Tudo

“A Teoria de Tudo” é um filme biográfico sobre o (talvez) físico teórico e cosmólogo mais famoso da atualidade, Stephen Hawking. O filme foi escrito por Anthony McCarten, com base no livro da ex-esposa do cientista, Jane Wilde, onde ela conta sobre seu relacionamento com Hawking e como os dois enfrentaram a doença neurodegenerativa do físico. O filme foi dirigido por James Marsh e estrelado por Eddie Redmayne (que interpreta Hawking, ganhando o Oscar de Melhor Ator) e Felicity Jones, que dá vida à Jane Wilde. Estreou no Brasil no início do ano. “A Teoria de Tudo” foi um dos filmes que mais me criou expectativas esse ano, e um dos poucos que vi no cinema depois que assinei Netflix. Mas talvez pelo excesso de expectativas, acabei me decepcionando um pouco. O filme, com base no relato de Jane, acaba, obviamente, se focando demais na vida pessoal de Hawking, e sua trajetória científica fica em um plano secundário. Seus estudos no doutorado e suas pesquisa

Luz engorda?

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Mas antes uma palavra dos nossos patrocinadores: essa postagem faz parte de uma blogagem coletiva, organizada pelo Roberto Takata do Gene Repórter , devido a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2015, cujo tema é “Luz, Ciência e Vida”. Abaixo segue a lista com todos os canais de divulgação científica que estão participando: Ciência Ao Natural Biorritmo A Bela Ciência Ceticismo, Ciência e Tecnologia 4x15 Evolution Academy Coluna Ciência Metodologia Científica e Tecnologia Do Nano ao Macro Cultura Científica Física na Veia! Rainha Vermelha Rascunhos Científicos Beta Final Curiozoo A Liga dos Cientistas Extra Ordinários Dinobótico Pesquisa em Biomedicina Poluição Luminosa Nightfall in Magrathea Gênero e Ciências Blog Cético Psiquiatria e Sociedade Blog Divulga Ciência Um A+ de BioCiências Dragões de Garagem

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Novas terapias vão ajudar o próprio corpo a combater o câncer

O nosso sistema imune é preparado para combater invasores e corpos estranhos no nosso corpo, como vírus, bactérias e fungos, usando células especializadas e uma grande variedade de proteínas, como anticorpos e enzimas. O câncer, um aglomerado de células que se multiplica sem controle, é, de certa forma, um corpo estranho. Por que então nosso sistema imune não impede o crescimento e destrói os tumores? Bem, na verdade, ele faz isso sim. Mas o problema está em dois pontos. Primeiro, as células cancerosas, embora diferentes, ainda são bem parecidas com as células normais, o que “confunde” o sistema imune. Segundo, os tumores são capazes de reduzir a atividade das células de defesa do corpo para se proteger. Porém, novas terapias buscam agir nesses pontos, ajudando o próprio corpo a combater o câncer. Assim, uma série de cinco pesquisas foi publicada em sequência na revista Nature no ano passado, mostrando novos resultados nessa área. Dois dos artigos investigaram o primeiro pont

Dor em células de cultura

Para se testar novos analgésicos, aqueles remédios que você toma quanto tem uma dor de cabeça ou quando toma um tostão no futebol de terça à noite, ainda é necessário causar algum tipo de dor, infelizmente. Embora todos os cuidados com o bem-estar dos animais de laboratório sejam levados em conta, ainda assim as cobaias vão passar por um grau de desconforto e dor. Seria excelente se pudéssemos abrir mão dos animais, tendo outra forma de avaliar novos analgésicos. Um trabalho publicado por pesquisadores americanos, com a participação de uma cientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, deu alguns passos na direção desse objetivo. Os pesquisadores, utilizando técnicas de biologia molecular e engenharia genética, conseguiram transformar um tipo de célula (chamada fibroblasto) embrionária de camundongos em neurônios que respondem a dor. Tudo isso em cultura de célula! O procedimento é relativamente simples e consiste em mudar a atividade de cinco g

Células do câncer “roubam” componentes de células saudáveis para continuar crescendo

O metabolismo de células cancerosas é diferente do de células normais em muitos aspectos. E essas diferenças são estudadas, pois podem ser alvos interessantes para controlar a doença, já que seria possível desenvolver um remédio que atacasse apenas o câncer. O metabolismo energético, ou seja, o modo como as células conseguem a energia para se manterem vivas, é um dos pontos onde câncer e células normais são bem diferentes. O metabolismo acelerado do câncer costuma causar diversos danos às mitocôndrias, estruturas celulares responsáveis por transformar a energia química das moléculas para uma forma que elas possam utilizar. (Nota: Atenção! As mitocôndrias não geram energia! Nada nesse planeta gera energia; as formas de energia são apenas transformadas. A única coisa próxima de nós que gera energia é o Sol, através de fusão nuclear.) Porém, como os danos às mitocôndrias afetam o câncer não tinha sido estudado de forma clara. Visando entender esse ponto,

Identificado receptor do tato!

Isso mesmo que você ouviu (leu)! Nós ainda não sabíamos a fundo como o sentido do tato funcionava. Dos nossos cinco sentidos, o tato parece ser o mais simples, mas, de fato, não se sabia como ele age. Bem, sabíamos que células nervosas levam as informações de contato da pele até o cérebro, que interpreta isso como a sensação de tato. Mas como? Como a célula sente esse sinal de contato? Sabemos como a luz ativa células na retina, como compostos nos alimentos ativam receptores na língua, odores ativam receptores no nariz e como as ondas sonoras que vibram no tímpano viram o que você ouve. Mas o tato era um mistério. Então, cientistas americanos, alemães e britânicos investigaram essa questão. Utilizando camundongos como modelo, os pesquisadores identificaram uma proteína, chamada Piezo2, que está presente nas células nervosas que transmitem os sinais de contato da pele. Essa proteína é um canal iônico, ou seja, controla a entrada e saída de sais da célula. E muitos canais iônicos

Água oxigenada e plantas transgênicas

Há pouco tempo atrás, se acreditava que o genoma dos seres vivos se dividia entre genes, pedaços de DNA que produzem proteínas, e o resto, basicamente inútil. Ledo engano! Nos últimos anos, descobrimos que muitas partes do genoma que não codificam proteínas têm como função regular a atividade dos genes, ligando ou desligando, diretamente ou gerando moléculas de RNA para isso. Esse conjuntos de RNA são chamados de RNA de interferência, ou RNAi para os íntimos. E hoje, o RNAi é uma ferramenta importante para diversas parte das ciências biológicas, seja na realização de experimentos, ou para novas tecnologias para tratamento de doenças humanas ou desenvolvimento de plantas modificadas geneticamente. Mas o maior problema é que ainda sabemos pouco como os RNAi funcionam ou chegam até as células. Um grupo de cientistas australianos investigou parte da questão em uma planta modelo de estudo, chamada Arabidopsis thaliana . Já se sabia que os RNAi produzidos n

Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?

Ontem, eu recebi pelo Facebook um vídeo de uma entrevista com o Dr. José Roberto Kater onde ele comenta sobre os benefícios do ovo na alimentação. Porém, algumas coisas me soaram um pouco, digamos, curiosas (na verdade, em pouco mais de três minutos de vídeo poucas coisas pareceram normais (o vídeo completo está disponível no fim do texto)). O Dr. Kater é, segundo a Internet, médico, obstetra, nutrólogo, antroposófico (a medicina antroposófica é um ramo alternativo com base em noções ocultas e espirituais), homeopata, acupunturista e com mais algumas outras especialidades. Porém, não é cientista, já que não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes (do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, CNPq) ou assina qualquer artigo científico indexado em banco de dados internacional. Para mim, o cara pode dizer que é o Papa, eu não vou acreditar nele de primeira. As informações científicas estão disponíveis e eu fui pesquisar para entender se o Dr. Kater é um visionário ou ch