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Proteínas brilhantes e a glicose do sangue


Pessoas com diabetes precisam estar sempre controlando a quantidade de glicose no sangue, principalmente aquelas que usam insulina regularmente. Elas precisam medir os níveis de açúcar várias vezes ao dia e dependendo do resultado tomar ou não o hormônio. Uma medição precisa da glicose é importante, pois uma dose muito alta de insulina pode levar a uma grande redução do açúcar e causar sonolência, desmaio e até morte. A forma padrão que os diabéticos usam para medir a glicose em casa é aquele aparelho que usa fitas e uma gota de sangue tirada do dedo. Porém, esse método apresenta alguns problemas. Ele não funciona bem quando os níveis de glicose estão baixos, o que é perigoso. Além disso, a quantidade de células vermelhas no sangue e alguns remédios usados pelos diabéticos podem interferir na dosagem e apresentar uma glicemia maior que a real. Por isso, novas formas de medir a glicose do sangue estão sendo desenvolvidas.

Pesquisadores americanos publicaram seus resultados na revista ACS Chemical Biology, onde eles criaram proteínas fluorescentes no laboratório que podem ser usadas para solucionar esses problemas. Os cientistas modificaram de diversas formas uma proteína, presente em bactérias, capaz de se ligar a glicose. Primeiro, os pesquisadores conseguiram “piorar” a proteína original, reduzindo a sua capacidade de ligação ao açúcar, mas isso foi importante para permitir que ela se ligasse à glicose na quantidade que ela normalmente está presente no nosso sangue. Depois, os cientistas colocaram aminoácidos (que são as moléculas que formam as proteínas) artificiais nessa proteína. Esses aminoácidos modificados eram fluorescentes, ou seja, eles “brilhavam” quando eram estimulados por luz de uma determinada potência. Dessa forma, a proteína era capaz de brilhar como a Árvore da Lagoa.

Mas para quê? O interessante é que quando a proteína se ligava a glicose, a quantidade de brilho emitido diminuía. Assim, é possível medir a quantidade de glicose no sangue; quanto menos brilho, mais glicose! E isso funcionava em diferentes temperaturas, como 37 °C ou 42 °C (o que é importante se você quiser fazer medidas diretas no corpo, sem retirar o sangue), e com pouquíssima interferência de outros açúcares no sangue.

Por fim, os pesquisadores foram para a prova dos nove: eles construíram um biossensor usando uma fibra ótica e mediram os níveis de glicose em soluções artificiais (tipo um copo com água e açúcar), soro de sangue humano (o que é usado nos exames feitos em laboratórios de diagnóstico) e sangue de porco. E o biossensor funcionou satisfatoriamente, embora ainda seja um protótipo. Os cientistas esperam que a proteína criada ainda possa ser melhorada e utilizada em aparelhos capazes de medir a glicose de modo mais preciso. Ou, mais ainda, sistemas capazes de medir a glicose do sangue dentro do corpo, em tempo real, para permitir o desenvolvimento de um aparelho capaz de liberar insulina diretamente no corpo, sem a influência do paciente. Esse futuro “pâncreas eletrônico” poderá livrar os diabéticos das agulhas e dos riscos de uma hipoglicemia.

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